
Dependências
Loucos por Internet
Quem,
hoje, não conhece algum adolescente que não sai mais com os amigos, que
abandonou a prática de esportes e perdeu a vontade de estudar, mas, em
compensação, liga a Internet assim que chega em casa e até altas horas
da madrugada troca a normal e sadia convivência social pelos papos
virtuais em uma das dezenas de chats disponíveis? Ele é vítima de uma
patologia contemporânea que preocupa e mobiliza psiquiatras e
psicólogos: a “Internet dependência”.
Esse adolescente está longe de ser um caso único. Há, em todo o mundo, milhões deles, e não apenas adolescentes. Pesquisas sérias, como as feitas pela médica norte-americana Kimberly Young, do Center for On-line Addiction (www.netaddiction.com/compa ny_info), informam que o número global dos que sofrem da síndrome se situa entre 6 e 10% do total de usuários da rede.
São pessoas de todas as idades, profissões e classes sociais, que possuem como ponto em comum o fato de não conseguirem controlar o impulso irresistível que as faz passar en-tre 50 e 60 horas por semana conectadas à rede.
Como alguém se torna vítima da síndrome de Internet dependência? Os estudiosos explicam que, de início, o doente percebe apenas a necessidade de aumentar o tempo transcorrido diante do monitor. Mas rapidamente ele se dá conta de que não consegue suspender e muito menos abdicar do uso da rede. As características psicológicas das vítimas da Internet dependência são, quase sempre, as mesmas dos toxicômanos clássicos: indivíduos que sofrem de solidão, depressão e dificuldade de comunicação.
Tais pessoas tendem a se esconder atrás desse novo meio, a procurar refúgio num mundo virtual no qual podem inventar para si mesmos uma nova vida, uma identidade alternativa mais gratificante do que a real. Pessoas, portanto, que sofrem de dificuldades para alcançar uma integração social normal. Aliada a isso existe também, segundo alguns estudiosos, uma predisposição genética.
E, fator importante, o risco aumenta consideravelmente para aqueles que são obrigados, por conta do seu trabalho, a passar muitas horas diante do computador, como os programadores, os pesquisadores e os jornalistas.
Dependência de informações, a mais recente novidade
Uma das descobertas mais recentes revela uma modalidade inusitada de dependência potencializada pela Internet: a “dependência de informações”. O constante bombardeio de notícias fornecidas não apenas pela Internet, mas também pela televisão e por outras ferramentas da mídia contemporânea, “vicia” a pessoa e cria em algumas delas uma necessidade cada vez maior de consumir informações.
Esse consumo pode se tornar obsessivo e, nesse caso, o “viciado” em informações começa a manifestar os mesmos sintomas de qualquer outra forma de dependência. Entram em estado de angústia patológica quando são obrigados a passar muito tempo sem acessar e consumir informações.
Famílias de “ciberdependentes”
- Pacientes entre 17-25 anos que chegam a jogar videogames 12 horas por dia.
- Os que não saem dos chats e fóruns de discussão.
- Os adultos que mergulham nos sites pornográficos.
Não se discute o fato de que a Internet veio para ficar e constitui hoje uma ferramenta essencial e utilíssima da vida moderna. Mas a prática compulsiva dos recursos que ela oferece nada tem de inócua ou de brincadeira. Exatamente como acontece com as drogas químicas (as toxicomanias), as dependências não-químicas também trazem consigo uma séria possibilidade de loucura e de alienação da realidade.
Tempos modernos e seus vícios típicos
Celular, bingo, trabalho, televisão, comida, sexo, exercícios físicos: tudo em excesso pode se converter em dependência não-química.
A Internet dependência está longe de ser a única no leque amplo das dependências não-químicas. Videogames, compras compulsivas, telefone celular, trabalho, religião e esoterismo, comida, prática compulsiva de esportes e exercícios físicos de fitness, sexo compulsivo, jogos de azar constituem algumas modalidades dessa nova linha de dependências típicas dos tempos modernos. Até mesmo certas formas de dependência amorosa e afetiva são entendidas hoje como modalidades de dependência.
Um episódio do seriado norte-americano ER (Plantão Médico, no Brasil) apresentou há pouco o caso de um rapaz internado no pronto-socorro por conta da compulsão de se masturbar cerca de dez vezes por dia. Na Dinamarca, um jovem pediu ajuda a uma clínica de desintoxicação: ele desenvolvera a mania de enviar mais de 200 mensagens SMS por dia; no final de cada mês a conta do seu celular superava dois mil euros (cerca de seis mil reais).
O primeiro lugar em número de casos de
dependência não-química parece ser ocupado pela ludopatia – o jogo
patológico. Ela engloba não apenas os tradicionais jogos de azar – nos
dias de hoje sobretudo o bingo –, mas também os jogos possibilitados
pelo computador, como os videogames, os jogos de paciência, etc. É
enorme o número de casos de lesões por esforço repetitivo (LER) na
musculatura da mão e do braço devido à prática compulsiva de videogames
e jogos de paciência, os quais exigem um uso intenso do mouse.
